sábado, 12 de setembro de 2009

A Globo (novamente) foge da realidade, por Claudio Yida Jr

A UPES se prepara para a Conferência Nacional de Comunicação, construindo conjuntamente com demais entidades uma Conferência Livre para debater a democratização dos meios de comunicações, então para contribuir no debate, um belo artigo para ajudar a nos embasar:
"Emissora dos Marinho quer liberdade de expressão, mas cerceia liberdade de globais na internet Circula pela internet, desde o último dia 10 de setembro, uma suposta carta que delimita a conduta de todos os funcionários das Organizações Globo – artistas inclusos – nas mídias sociais. Talvez por conta dos últimos casos de queimação de filme de suas estrelas (procure por Xuxa+twitter, Ana Maria Braga+fauna ou Luciano Huck+twitter no Google), a emissora carioca ponderou que não seria positivo à imagem da corporação o desmascaramento público da prole, até pouco tempo uma casta intocável.
Destaquemos alguns trechos interessantes da circular, para depois destrincharmos o que há por trás de tudo isso. Diz a carta que seu objetivo é “proteger seus conteúdos - fruto do esforço individual de centenas de colaboradores - da exploração indevida por terceiros” e que com “a expansão de novas plataformas ‘virtuais’ nos leva a reforçar normas que já devem prevalecer quanto aos demais veículos de comunicação tradicionais”. Mais abaixo, aparecem sinais claros de censura e, pior, de quase escravidão: “A hospedagem em Portais ou outros sites, bem como a associação do nome, imagem ou voz dos contratados da Rede Globo a quaisquer veículos de comunicação que explorem as mídias sociais, ainda que o conteúdo disponibilizado seja pessoal, só poderá acontecer com prévia autorização formal da empresa.” (...) “A presença individual e particular dos nossos contratados deve se restringir, se desejada, exatamente a este universo [nota: canais oficiais da emissora], estando totalmente desvinculada da atuação na Rede Globo, nem tampouco associados a outros veículos de comunicação. Se essa separação clara não puder ser estabelecida, o uso dessas mídias fica inviabilizado.”
Nota-se que a Globo – assim como não consegue trabalhar ao vivo por conta do seu estilo pasteurizado – jamais aceita diversidade de opinião e castra tudo aquilo que foge do seu famigerado “Padrão de Qualidade”. Vale lembrar que isso não fica restrito à TV; espalha-se também no seu jornal impresso, com aquela seção de cartas que mais parece um correio elegante de festa junina, tamanha a quantidade de elogios. Vem à tona, portanto, um modus operandi que inclui omissão e manipulação de informações e cerceamento da liberdade de expressão de seus funcionários (fiquemos, só por cima, com o caso do repórter Rodrigo Vianna, que pode ser melhor entendido aqui).
Deixando de lado o histórico sombrio da Vênus Platinada, cuja capivara inclui a fraude na eleição de Brizola ao governo do Rio de Janeiro, o desprezo à campanha pelas Diretas e a edição do debate Lula x Collor, é preciso salientar o abismo entre o discurso e a prática. Não faz muito tempo e figurava na agenda pública uma proposta de controle da atividade jornalística a partir de uma agência regulatória. A empresa dos Marinho bradou, dizendo que isso era contra - vejam só! - a liberdade de expressão que a Globo agora retira dos seus próprios jornalistas.
Não à toa, a mídia tradicional perde cada vez mais espaço e influência na formação de opinião. Ao invés de utilizar as redes sociais como um instrumento de aproximação ao público, jornalões, TVs e revistas semanais de pouca credibilidade se colocam em posição de confronto - simplesmente por não compreender o funcionamento da interatividade e o caráter colaborativo da web -, brigam com seu consumidor e fazem exatamente aquilo que querem “denunciar”. A imprensa consolidada, nessa paranóia denuncista, se esqueceu do compromisso com o factual e com a realidade e se tornou mera fábrica de mentiras e fantasias. Sob tais termos, a Globo poderia muito bem se dedicar exclusivamente às telenovelas, coisa que faz com primazia, e esquecer esse papo de jornalismo e contato direto com o povo para não caminhar em direção a uma desmoralização irrecuperável. "


Claudio Yida Jr é blogueiro do "Chutaquiehmacumba.blogspot.com" e colaborador do site http://www.ujs.org.br/

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